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sexta-feira, abril 19, 2024
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Jornalistas têm que se unir na defesa da diversidade sexual nos meios de comunicação, conclui debate

A necessidade de um coletivo de jornalistas que atue pela diversidade sexual, dentro e fora das redações e assessorias, ficou em evidência durante o debate ‘Diálogos TransFormando: um debate sobre a produção de conteúdo LGBT e narrativas nos meios de comunicação’. O evento, realizado na noite desta quarta-feira (20/05) no auditório João Saldanha, fez parte da programação de 80 anos do Sindicato.
Reunidos, esses jornalistas poderão propor pautas relacionadas à comunidade LGBT nas mais diversas redações, não apenas as da imprensa comercial, e balizar o uso de termos e abordagens mais sensíveis em jornais, rádios, emissoras de TV e sites. O viés preconceituoso, ainda muito presente nas narrativas da imprensa, foi a principal crítica feita pelos debatedores e pelo público às reportagens produzidas no Brasil hoje.
“É cruel ver na mídia que, quando você não está invisível, é retratado de forma ofensiva”, resumiu a pesquisadora Erica Sarmet, que estuda o tratamento dado à população LGBT nos meios de comunicação.
O aumento da visibilidade com a diversificação das fontes de informação, turbinada pelas redes sociais, foi saudada no debate. No entanto, a maior influência das informações publicadas na mídia comercial no debate com a sociedade, em contraste com os veículos especializados na cobertura LGBT, ainda é um entrave.
“Estamos sempre transitando nesse paradoxo de liberdade versus alcance. Eu hoje tenho espaço livre para publicar coisas que um jornalista da chamada grande imprensa não goza. No entanto, ele alcança muito mais gente – e muitas vezes publicando informações levianas a respeito dos LGBTs”, disse Fabricio Longo, editor do portal ‘Os Entendidos’.
Para o jornalista Gilberto Scofield Jr., além de falar para a base da redação, o movimento LGBT também deve se preocupar em sensibilizar os aquários, onde estão os editores-executivos, já que é ali onde são tomadas as decisões e formuladas as diretrizes da cobertura jornalística do veículo.
“Não podemos esquecer que as chefias são compostas por homens heterossexuais brancos e ricos que exercem seu poder sem se fazerem de rogados. É importante,mas não adianta só ventilarmos as nossas ideias na redação. Há um trabalho de conversa a ser feito com essas cúpulas “, afirmou Scofield Jr., que trabalhou por duas décadas em ‘O Globo’.

Indianara Siqueira, presidenta do Transrevolução, alertou para a responsabilidade ética que os jornalistas têm na educação da sociedade e que é urgente um tratamento mais respeitoso aos LGBTs nos meios de comunicação, especialmente em relação às travestis e transsexuais.
“Os jornalistas deveriam lembrar que há lugares em que a escola não chega e onde a imprensa se torna fonte de educação. Há pessoas que são até alfabetizadas a partir da mídia. É uma grande responsabilidade. O jornalista deveria se empenhar nesse papel para tornar a sociedade mais acolhedora para todas as pessoas que a compõem”, afirmou.
Para que isso aconteça, é preciso resgatar um dos princípios do jornalismo, a busca incessante pela forma mais correta e fidedigna de relatar os fatos, afirma Bárbara Aires, produtora, atriz e ativista trans.
“É imprescindível que os meios de comunicação, os repórteres, passem a informação de forma clara e também respeitosa, sempre diferenciando identidade de gênero de orientação sexual e tratando pessoas trans de acordo com sua identidade de gênero”, afirmou ela, que integrou a equipe do programa ‘Amor e Sexo’, da Rede Globo.
Além dos meios, a universidade também deveria cumprir seu papel em promover a diversidade sexual. Estudante de jornalismo e transhomem, Patrick Lima afirma que a temática LGBT não é exposta nos cursos de graduação. Ele ressaltou a importância de um debate como este em uma entidade que representa os jornalistas.
“Achei a iniciativa boa e o debate melhor ainda. Esse estreitamento se faz super necessário para que os dois lados saiam ganhando. Fui enquanto [militante de] movimento, mas acabei aprendendo bastante como estudante”
Mediadora do debate, a diretora do Sindicato Camila Marins lembrou que, por ser direito humano, a defesa da diversidade sexual tem que estar entre as discussões primordiais dos jornalistas.
“Fiquei muito feliz e emocionada com a realização desse evento, que só reafirma a nossa função social como jornalista em defesa e pela promoção dos direitos humanos. A revolução será purpurinada”, disse.
Esse foi quarto evento realizado na programação especial de 80 anos do Sindicato. A maratona começou no Dia do Jornalista, em 7 de abril, com uma exposição de fotos das manifestações populares de 2013 e 2014 no Rio. O debate sobre o ameaçador projeto de lei que libera as terceirizações no Brasil deu continuidade à série, em 26 de abril. No último dia 6, o Sindicato recebeu uma exposição sobre a ativista Lélia Gonzalez seguida de um debate sobre o feminismo negro. Fique atento aos próximos eventos e participe.

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