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sábado, abril 20, 2024
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Semana do Jornalista: bom senso é arma eficaz no combate à violência contra a imprensa

A morte do jornalista Tim Lopes, há 14 anos, foi um divisor de águas no jornalismo brasileiro. Desde então, a violência contra os profissionais de imprensa e formas de garantir a segurança desses trabalhadores tornaram-se os assuntos mais debatidos pela categoria Brasil afora. Apesar dos esforços empreendidos nessa década e meia, a violência cresceu e se diversificou. Hoje, além de equipamentos de segurança e análises de risco, o bom senso do jornalista tem sido uma das armas mais eficazes na prevenção contra esses crimes. Essa é a opinião dos participantes do debate ‘Violência contra Jornalistas’, que abriu a Semana do Jornalista, ontem, no auditório do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro (SJPMRJ).
Antes do debate, o público pôde conhecer mais sobre a história de vida de Tim Lopes, recontada a partir da ótica de seu filho, o jornalista Bruno Quintella, na exibição do documentário “Histórias de Arcanjo”, dirigido por Guilherme Azevedo. Bruno, que é produtor da Rede Globo e diretor jurídico do SJPMRJ, foi o roteirista do filme.
“Além de fazer um filme sobre o meu pai, eu fiz uma homenagem ao jornalismo, que conheci através do meu pai, desde moleque, nas redações. Meu pai era muito envolvido com a profissão, ele gostava de contar pra mim as matérias que estava fazendo e, às vezes, eu nem entendia muito bem o que era”, lembra Quintella, que foi um dos debatedores do evento, junto com Ubiratan Ângelo, ex-comandante da Polícia Militar do Rio de Janeiro e atual Coordenador de Segurança Humana do Viva Rio.
Uma das características de Tim Lopes, segundo Bruno, era a capacidade que ele tinha de se colocar no lugar do outro ao apurar uma reportagem: “ele mostrava um olhar de dentro pra fora e isso é muito difícil de fazer, que é você envolver o telespectador”. Foi com esse olhar que Tim esteve na Vila Cruzeiro para registrar a livre vendas de drogas na comunidade e, mais tarde, voltaria para realizar nova reportagem – quando foi capturado, torturado e morto cruelmente por traficantes da região.
“Até a morte dele acabou sendo uma reportagem de certa forma, pois chamou a atenção para isso [execução feita por traficantes no chamado “micro-ondas”], pois muitas pessoas já estavam morrendo daquele jeito. A morte dele chamou atenção para o problema”, ressaltou Quintella.
Confira a programação completa da Semana do Jornalista
Semana do Jornalista: Reforma da Previdência em debate no Sindicato nesta quinta-feira
A mediação do debate foi feita pela jornalista Beth Costa, atual integrante do Conselho Fiscal do SJPMRJ. Ela era presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) na época do crime e lembrou a reação da categoria à morte do colega.
“A gente ajudou a petrificar a seriedade da morte e das circunstâncias em que ela ocorreu e isso modificou a forma como a nossa categoria passou a se preocupar com a questão da segurança. A morte do Tim foi um marco para todos os jornalistas brasileiros no sentido de prevenir situações para que o repórter não ficasse tão exposto ao perigo em nome do exercício profissional”, disse Beth.
Ubiratan Ângelo recordou a forte reação da sociedade civil organizada gerada pela morte de Tim Lopes, principalmente do Sindicato e da Fenaj, sobre a cúpula da Segurança Pública e sobre as empresas – que, a partir do episódio, começaram a tomar as primeiras medidas para garantir a segurança dos trabalhadores, como a restrição a pautas mais arriscadas e o uso de coletes e outros equipamentos de proteção individual. Tais restrições, porém, criaram um paradoxo entre os repórteres que cobrem a área de segurança, segundo ele.
“O jornalista que cobre polícia trabalha nas mazelas da sociedade e não há uma comunicação institucional com a PM, só em questões episódicas. Isso deve ser assim para evitar a exposição do jornalista. No entanto, ele fica muito vulnerável em determinados espaços que circula, pois não há como a polícia prestar socorro imediato em caso de problemas. É uma dificuldade muito grande, pois o repórter precisa circular nesses locais para encontrar a notícia e as restrições podem afastá-lo das informações que ele precisa trazer à redação”, disse Ubiratan Ângelo.
Bruno Quintella ressaltou que as medidas de proteção surgidas após a morte de seu pai não substituíram o necessário bom senso que os jornalistas devem ter ao desenvolver uma reportagem. Ele demonstrou preocupação com as novas gerações de jornalistas, que, na média, estariam mais preocupados em aparecer do que em lutar pelos direitos da população: “Jornalista, quando vira notícia, é uma demonstração de como vai mal o jornalismo”.
A Semana do Jornalista continua nesta quinta-feira com um debate sobre a Reforma da Previdência que vai reunir a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ), integrante da Comissão da Reforma da Previdência na Câmara dos Deputados, a jornalista Flávia Oliveira, comentarista da Globonews, Virgínia Berriel, da Executiva Nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Suzani Andrade Ferraro, membro da Comissão da Previdência Social da Ordem dos Advogados do Brasil seção Rio de Janeiro (OAB/RJ) e Margarida Pressburger, advogada, ex-integrante da Comissão de Direitos Humanos do Alto Comissariado da ONU e atual membro da Comissão de Direitos Humanos do Instituto de Advogados do Brasil (IAB). A mediação será feita pela advogada trabalhista Cláudia Duranti, do SJPMRJ. Nesta sexta-feira, Dia do Jornalista, o Sindicato abre o auditório para uma confraternização da categoria a partir das 19h.

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