Contra fatos não há argumentos. A máxima se aplica às negociações da atual campanha salarial do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio. Apesar do crescente custo de vida na capital, os patrões se recusam a dar um reajuste salarial superior à inflação – o que reflete a ganância dos empresários e seu desrespeito com os jornalistas. O percentual ofertado até o momento, 5,29%, mal cobre as perdas com o aumento dos preços nos últimos anos. Além disso, ele é calculado de acordo com o menor índice oficial de inflação, o INPC, que considera o custo de vida das famílias que ganham de um a cinco salários mínimos. Não podemos admitir essa tentativa de desvalorizar a nossa profissão e precisamos nos unir em busca de um reajuste digno e mais direitos.
Os fatos também desmontam a versão das empresas sobre o piso salarial. Os prepostos dos patrões dizem que os valores oferecidos, baixíssimos, são oferta única dentro da realidade do mercado de trabalho: é pegar ou largar. A proposta patronal sugere pisos de R$ 1.274 (televisão), R$ 1.132 (rádio), R$ 1.100 (trainee de jornais e revistas) e R$ 1.250 (repórter de jornais ou revistas efetivado após um ano) para cinco horas de trabalho diárias. Em São Paulo, por exemplo, o acordo coletivo celebrado no ano passado prevê piso de R$ 2.190,18 (jornais e revistas) e R$ 1.824 (rádio e Tv), valores 75% e 43% superiores aos que foram ofertados pelos patrões no Rio, respectivamente. Faz mais de dez anos que os jornalistas do Rio não têm piso salarial.
Não apenas em São Paulo se paga um piso maior do que as empresas daqui desejam. Capitais com mercado de trabalho para jornalistas menor do que o do Rio têm salário normativo muito maior, como o Maranhão (R$ 2.080,56), Alagoas (R$ 2.437) e Paraná (R$ 2.605,20). Veja aqui a tabela de pisos em todo país.
O Sindicato batalha ainda pelo aumento do valor de face dos tíquetes alimentação e refeição, que devem refletir a realidade. Não é admissível que empresas de radiodifusão, que auferem lucros recordes em ganhos publicitários, queiram dar R$ 7,69 por dia, praticamente um vale-açaí, para seus jornalistas. Para os profissionais de jornais e revistas, o valor é um pouco maior – e daria para comprar um salgado para acompanhar o açaí: reajuste de 5,29% sobre os atuais R$ 14,50 diários. Pesquisa recente da Assert, associação nacional das empresas de tíquetes refeição e alimentação, conclui que o preço médio de uma refeição na cidade do Rio é de, em média, R$ 37.
A diretoria do Sindicato e os representantes das empresas voltam a se reunir nos dias 8 (rádio e TV) e 9 (jornais e revistas) para novas rodadas de negociação. A proposta dos patrões apresentada na semana passada, e recusada na assembleia dos trabalhadores, deverá ser revista. O Sindicato vai intensificar a mobilização da campanha salarial nas redações, mas os jornalistas precisam se unir nas assembleias e demais atividades da campanha para garantir um acordo salarial vitorioso. Sem pressão, as negociações não avançam.