Quem passa pelo corredor de entrada do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio acaba parando os olhos sobre o mural de madeira aparafusado à parede. Visitantes em geral, jornalistas e até funcionários do local ficam em pé, por alguns instantes, diante do quadro de avisos.
O que chama a atenção de todos é o Jornal Mural – um pedaço de cartolina, de tamanho pouco maior que uma folha A3, com recortes de jornais recentes. Fragmentos do que foi publicado na imprensa brasileira, principalmente nos impressos cariocas, nas últimas semanas. Misturados, os pedaços de periódicos ganham novas angulações de notícias.
Valtair Almeida (foto), que edita o Fonte Explícita atualmente, explica como é o trabalho de garimpagem até chegar ao produto final: “Leio jornais todos os dias e também seleciono o que recebo de colaboradores, faço um apanhado.” Ele lembra que a tradição do Jornal Mural começou no início em 1993 com Arthur Cantalice (foto abaixo), combativo jornalista carioca, ex-diretor do Sindicato e ex-conselheiro da Associação Brasileira de Imprensa (ABI).
O cartaz produzido por Cantalice – que morreu do coração em 2008, enquanto discursava na sede da ABI – tinha algumas diferenças do atual, mantido por Valtair. Fotos de mulheres de corpo bem definido, por exemplo, foram descartadas.
“O Cantalice colocava em todas as edições a frase ‘quem lê mais, sabe mais’, mas eu tirei isso também, porque penso que lê quem quer”, explica o atual editor, que em outubro deste ano completará três anos na função voluntária. De qualquer forma, entre uma alteração e outra, permanece em todos os números a sentença histórica de Millôr Fernandes: “Jornalismo é oposição. O resto é armazém de secos e molhados.”
Colaboradores
Outros nomes importantes para a tradição do jornal mural – que à época de Cantalice ficava 15 dias exposto no Sindicato e, depois, 15 dias na ABI – são os do jornalistas Idalício Manoel e Getúlio Gama, além do cartunista Adail José de Paula, que batizou o Fonte Explícita. Eles enviam recortes de jornais como sugestões para Valtair.
“O Cantalice era combativo, botava o dedo na ferida, levantava a voz onde fosse. Era um cara muito inteligente e bom polemista”, recorda Adail, que ao definir o ex-diretor do Sindicato dos Jornalistas descreve também a cara do Jornal Mural até 2008. “Hoje as edições trazem mais humor em formas diversificadas”, completa o cartunista.
A última edição do jornal mural produzida por Cantalice, a de número 602, está datada de 8 de abril de 2008, uma semana antes de sua morte. Depois que Valtair assumiu, já foram 69 edições dos cartazes que colorem o mural no corredor de entrada do Sindicato dos Jornalistas.
Confira edições antigas e recentes do Jornal Mural: