texto publicado na edição 37 (fevereiro) do Lidão, informativo impresso do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio.
As inovações da Ultima Hora, a combatividade da Tribuna da Imprensa, a influência do Correio da Manhã, o vanguardismo do Jornal do Brasil… Além de terem deixado sua marca na história da imprensa nacional a partir do Rio de Janeiro, essas quatro publicações têm algo em comum: depois de uma longa agonia, tiveram um melancólico fim. Durante muitos anos, renderam um bom dinheiro a seus donos, para depois afundar em dívidas e, em alguns casos, deixar empregados sem salários e indenizações trabalhistas.
A história da imprensa está cheia de casos como esses. E as lembranças de ascensão e queda vêm sempre à memória em cada nova leva de demissões – como aconteceu quando O Dia demitiu 12 jornalistas e 70 profissionais da área administrativa no fim do ano passado. Quem acaba perdendo, além dos próprios profissionais, é o jornalismo. Em quase todos os casos, a má administração acelerou o fim das publicações. Mas não é esse o único motivo das falências.
“Esse fenômeno (de fama e falência de publicações) não é uma exclusividade dos jornais do Rio. Mas é também um fenômeno carioca a partir do fato de que a riqueza, a variedade da imprensa do Rio de Janeiro devia-se em grande parte à sua condição de capital da República”, lembra o jornalista Alberto Dines, ex-editor da Ultima Hora e do Jornal do Brasil.
Assim, a mudança do centro político nacional para Brasília, na década de 1960, e a falta de sustentação econômica do estado pelo interior, destaca Dines, acabaram por sufocar competentes publicações.
Nesses casos, muitos donos de jornais, quando se encontravam afogados em dívidas – deixando sem salários seus empregados –, rendiam-se a uma derradeira busca por socorro. Basicamente, essa tentativa consistia em vender ou arrendar o patrimônio para alguém com recursos financeiros e objetivos políticos.
“Antes do fim, algum aventureiro comprava o título e mantinha a marca, na busca de ressuscitar o jornal”, recorda o cartunista Adail José de Paula, que passou 20 anos na redação do Diário de Notícias e 10 na Ultima Hora – dois periódicos que foram vendidos numa última tentativa de dar sobrevida às suas publicações. “Mas esse socorro não adiantava”, completa. “Nós só percebíamos que as coisas não estavam bem pelos comentários e salários atrasados”, diz o cartunista.
O Jornal do Brasil, em sua versão impressa, é outro exemplo de publicação que, antes de acabar, recebeu investimento de empresários – nesse caso, Nelson Tanure, que em 2001 arrendou a marca. A empresa deixa até hoje jornalistas à espera do que lhes é devido, como salários e FGTS.
Anos antes, porém, o JB travou uma batalha diária com O Globo na busca por leitores. “O Rio não aguentava dois jornais. O Globo vinha na cola do JB e precisava chegar aos domingos. Assim, o JB perderia sua principal fonte de renda”, conta Dines.
“A briga em si foi ganha pelo Jornal do Brasil. Só que esse não tinha cobertura de televisão que O Globo tinha.”
Que fim levaram
Jornal do Brasil: liderou a vanguarda – gráfica e editorial – do jornalismo brasileiro em diferentes períodos. Fundado em 1891, o JB passou pelas mãos de diversos empresários até que, em 2010, sob a gestão de Nelson Tanure, deixou de circular como veículo impresso. Ao lado, a capa de 12 de setembro de 1973. A ditadura proibiu os jornais de dar manchete sobre o golpe que derrubou e levou à morte o presidente do Chile Salvador Allende. Os editores obedeceram em parte: deram a primeira página inteira com um texto sobre o golpe, sem manchete.
Ultima Hora: embasado no nacionalismo e populismo de Getúlio Vargas, Samuel Wainer – histórico repórter da revista O Cruzeiro, de Assis Chateaubriand – lançou o jornal em junho de 1951 a pedido do próprio presidente da República. Inovou em diversos aspectos, dando nova cara ao jornalismo impresso popular brasileiro. Em crise financeira, foi vendido duas décadas após sua primeira edição. Na reprodução ao lado, a capa do UH de 1º de fevereiro de 1952, com imagem do presidente Getúlio Vargas.
Correio da Manhã: durante boa parte de seus 73 anos de trajetória (1901-1974), o jornal da família Bittencourt manteve independência em relação aos governos. Por sua redação, na Avenida Gomes Freire, na Lapa, passaram nomes como Graciliano Ramos, Otto Lara Resende e Ruy Castro. Em 1964 o jornal apoiou a deposição de João Goulart, mas logo após o golpe passou a fazer oposição aos militares. O fim da publicação começou a se desenhar com o AI-5. A ditadura minava o impresso, impedindo empresas de anunciar em suas páginas.