A Copa do Mundo e as Olimpíadas chegaram ao Brasil em um contexto de piora das condições de trabalho dos jornalistas. A precarização dos empregos, por meio da desvalorização do profissional e do enxugamento das equipes, prejudica a cobertura de interesse do público, como a execução dos gastos, as obras e demais impactos desses grandes eventos esportivos. O panorama não ocorre por acaso, como foi discutido na mesa de debates do Congresso sobre ‘Ética e exercício profissional no contexto dos megaeventos’.
A apuração independente do repórter muitas vezes também é censurada em prol de interesses econômicos ou políticos do dono do veículo onde trabalha, como afirma Bia Barbosa, representante da comissão de ética da Fenaj, que compôs a mesa: ‘Os órgãos de comunicação formaram uma posição editorial que criminaliza os movimentos contra a Copa. Prova disso é o escasso noticiário sobre as remoções nos órgãos da grande mídia’.
A autocensura é um instrumento que remonta aos anos da ditadura civil-militar, pois, tanto naquela época como hoje, os filtros do noticiário são decididos de acordo com interesses de grandes grupos econômicos e financeiros, afirma o historiador Renato Lemos. “Quem tem interesse no legado da Copa é a população que vive aqui, mas essa não é uma Copa para a maioria da população. É um evento voltado para um público abastado”.
Carlos Tautz, coordenador do Instituto Mais Democracia, vê mais coincidências nesse processo histórico. Ele cita empreiteiras, como a Odebrecht, e conglomerados de comunicação, como a Globo, como resquícios da era autoritária no país que ainda ditam as ordens hoje, principalmente na realização dos megaeventos. “Isso explicaria, por exemplo, a cobertura jornalística rebaixada que é feita pelos grandes veículos de comunicação sobre as intervenções urbanísticas profundas que o Rio passa hoje.”