Por Rogério Marques, conselheiro da ABI
Sempre que vejo matérias na mídia sobre episódios de racismo – esse flagelo da humanidade – algo me incomoda demais: a reprodução dos xingamentos, das ofensas de cunho racial. Na verdade, isso sempre me incomodou, mas eu não sabia expressar com precisão o que tanto me desagrada nessa história. Consegui, finalmente, esta semana, na minha página em uma rede social, diante de mais um episódio de racismo noticiado por jornais, emissoras de rádio e de TV.
Aconteceu em uma agência bancária na Zona Oeste do Rio. De um lado, três mulheres negras que usavam um caixa eletrônico. De outro, uma outra cliente que se sentiu incomodada, talvez com a demora das pessoas no uso do equipamento. Foi o bastante para que ela, segundo as denunciantes, desse início a uma série de ofensas racistas. A mulher acabou presa, e os jornais, as emissoras de TV e de rádio reproduziram os xingamentos, como sempre fazem.
Considero isso um erro. A mídia deveria falar simplesmente em “ofensas racistas”, ou “de cunho racial”. Da mesma forma quando se trata de xingamentos de conteúdo homofóbico, misógino ou quaisquer outros que envolvam preconceitos. As palavras usadas para ofender, os detalhes sórdidos devem ser deixados para o devido processo policial. Do contrário a mídia estará dando palanque aos racistas, ajudando a propagar essas ofensas, ainda que a intenção não seja essa, e realmente não é. A denúncia, sim, é da maior importância.
Para as vítimas, a exposição no noticiário, com os xingamentos de que foram alvo, se multiplica aos milhares. É a chamada revitimização.
Este é um assunto que deveria ser debatido nas redações, nas reuniões de pauta. Muitos jornalistas não percebem isso, como eu próprio não percebia no passado. Para me fazer entender melhor, vou reproduzir neste espaço os títulos e trechos de algumas matérias sobre o episódio de racismo na agência bancária na Zona Oeste do Rio.
Quanto aos autores dessas ofensas, que sejam julgados e punidos, de acordo com as leis, pela boçalidade de seus atos criminosos, o que infelizmente nem sempre acontece.