Por Andréia Coutinho Louback (Cojira-Rio)
Como o jornalismo pode qualificar a cobertura sobre o genocídio da juventude negra? A pergunta foi a tônica do debate Genocídio da juventude negra: o que o jornalismo tem a ver com isso? promovido pela Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial do Rio Janeiro (Cojira-Rio), vinculada ao Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro. O evento foi organizado no contexto do mês da Declaração Universal dos Direitos Humanos, comemorado em 10 de dezembro, e propôs uma reflexão a partir do Relatório Final da CPI do Assassinato de Jovens Negros publicado pelo Senado Federal. De acordo com o relatório, dentre as 56.000 pessoas assassinadas todos os anos no país, 53% são jovens. Dentre estes, 77% são negros e 93% do sexo masculino.
Cerca de 30 pessoas entre jornalistas, pesquisadores e estudantes foram conferir a experiência da jornalista Gabriele Roza, editora do Jornal Nuvem Negra e pesquisadora do Grupo Comunicação, Internet e Política, ambos da PUC-Rio, e do economista Mário Theodoro, consultor legislativo do Senado Federal. Entre os presentes, a jornalista Isabel Clavelin, assessora de comunicação da ONU Mulheres e membro da atual diretoria da Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj). O debate foi mediado pela jornalista, integrante da Cojira-Rio e presidenta da Comissão de Ética do SJPMRJ, Angélica Basthi.
A noite começou com a exibição do filme Chico (2016), um curta-metragem de 23 minutos dirigido pelos Irmãos Carvalho. A obra apresenta um drama retratado em 2029 que problematiza a pressuposição de que crianças pobres, negras e faveladas em algum momento da vida estão destinadas ao crime. O evento contou ainda com a participação especial do poeta Milsoul Santos, autor do elogiado livro Pássaro Preto, e que representou no debate o Instituto de Pesquisa e Estudos Afro-Brasileiros (Ipeafro).
Angélica Basthi iniciou o tema lembrando que “a violência e todas violações dos direitos das pessoas negras devem ser compreendidas na perspectiva das violações dos direitos humanos”. A jornalista Gabriele Roza mapeou uma perspectiva contemporânea da abordagem da mídia com as questões de raça e gênero. Roza relatou suas experiências pessoais e profissionais a partir da sua vivência como mulher negra e lançou questionamentos sobre qual tem sido o papel do jornalismo ao retratar uma sociedade extremamente racista e desigual.
Já o economista Mário Theodoro, que veio especialmente de Brasília para o evento, citou dados sobre o racismo, as estatísticas de assassinatos no Brasil por cor e idade, além dos aparatos negativos associados à população negra. Segundo ele, a “coisificação” e a naturalização da morte de corpos negros, a apatia, o ódio, a violência e a desumanização são resultantes de um sistema que reproduz lógicas colonizadoras, sexistas, classistas e, sobretudo, racistas. “A mídia, na qual a atividade jornalística se inclui, tem um papel de mudança de cognição social na problemática – no sentido de lutar na contramão dos estereótipos reforçados no inconsciente coletivo”, sintetizou.
A Cojira-Rio representa o SJPMRJ no Fórum Permanente Pela Igualdade Racial (FOPIR) que recentemente realizou o Dia de Mobilização do Fopir #Contra o Genocídio da População Negra, no Observatório de Favelas, no Rio de Janeiro. O grupo, que reúne organizações antirracistas em todo o país, encaminhou uma Denúncia Internacional, às Nações Unidas, do Genocídio da Juventude Negra como Política Pública do Estado Brasileiro. De acordo com o Fopir, o Estado brasileiro reconheceu o genocídio dos jovens negros no país, mas não atua para eliminar definitivamente esta tragédia brasileira.