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segunda-feira, abril 21, 2025
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Alberto Dines morre aos 86 anos

Fundador do Observatório da Imprensa, o jornalista Alberto Dines, morreu aos 86 anos na manhã desta terça-feira (22/5) em São Paulo.
“É com profunda tristeza que a equipe do Observatório da Imprensa comunica o falecimento de seu fundador, Alberto Dines , na manhã de hoje no hospital Albert Einstein, em São Paulo” , informou nota do instituto.
“Com lugar garantido na galeria dos grandes protagonistas da imprensa brasileira no último meio século, era um jornalista por vocação, um tipo cada vez mais raro nas nossas redações”, escreveu o jornalista Ricardo Kotscho no Balaio do Kotscho.
“ Generoso e incansável na sua luta por qualidade e ética na prática deste ofício, Dines comandou grandes redações, promoveu reformas que marcaram época, como a do Jornal do Brasil nos anos 60, e criou o Observatório da Imprensa, em 1996, em várias plataformas, a sua grande obra na crítica sistemática aos meios de comunicação no país”, resumiu Kotscho.
Alberto Dines nasceu no então Distrito Federal (RJ), em 19 de fevereiro de 1932. Iniciou sua carreira em 1952, como crítico de cinema da revista A Cena Muda.
No ano seguinte foi trabalhar como repórter na recém-fundada revista Visão, cobrindo assuntos ligados à vida artística, ao teatro e ao cinema. Um ano mais tarde passou a fazer reportagens políticas.
Filiou-se ao nosso Sindicato dos Jornalistas em 07 de junho de 1954. Em depoimento ao Centro de Cultura e Memória do Jornalismo (CCMJ), declarou “aí já me legalizei na ABI, no Sindicato, era tudo mais ou menos automático , logo que comecei a trabalhar como repórter de assuntos culturais da revista Visão”.
Passou a fazer reportagens políticas em 1953 e permaneceu na Visão até 1957, quando se transferiu para a revista Manchete, onde tornou-se assistente de direção e secretário de redação.
Em 1959, assumiu a direção do segundo caderno do jornal Última Hora, onde foi diretor da edição matutina e, mais tarde, das duas edições diárias (matutina e vespertina).
No ano seguinte foi nomeado editor-chefe da recém-criada revista Fa¬tos e Fotos, tendo colaborado, nessa ocasião, no jornal Tribuna da Imprensa, então pertencente ao Jornal do Brasil. Ainda em 1960, convidado por João Calmon, dirigiu o Diário da Noite, dos Diários Associados de Assis Chateaubriand, convertendo-o em tabloide vespertino.
JORNAL DO BRASIL
Dines ingressou em 1962 no JORNAL DO BRASIL, onde foi responsável por uma profunda reformulação que levou o jornal a se consolidar na vanguarda da imprensa nacional.
Durante sua passagem, o JB destacou-se pela criatividade em driblar a censura imposta pelos governos militares e pela defesa incansável da democracia e da liberdade de informar. Um exemplo marcante se deu quando da promulgação do Ato Institucional Nº 5 (AI-5), em 13 de dezembro de 1968, quando coordenou a edição da célebre primeira página, que se valeu de recursos como a previsão do tempo – “Tempo negro. Temperatura sufocante. O ar está irrespirável. O país está sendo varrido por fortes ventos…” – e de um anúncio no alto da página: “Ontem foi o dia dos cegos”, como parte de uma estratégia para denunciar a censura imposta à redação a partir de então, em consequência da nova ordem política autoritária instalada.
Neste mesmo ano, ao discursar como paraninfo foi preso por ter feito um discurso citando a resistência do povo da Tchecoslováquia à invasão russa.
Relata esse episódio em detalhes, em depoimento ao Centro de Cultura e Memória do Jornalismo (CCMJ): “ Naquela época a coisa mais importante era a resistência do povo tcheco à opressão soviética …que foi realmente uma revolta muito importante e tinha a ver com imprensa, porque imediatamente o que havia de liberdade na Tchecoslováquia foi suprimido…” (*)
Ainda no JB, criou o Departamento de Pesquisa, a Editoria de Fotografia, a Agência JB e os Cadernos de Jornalismo. Um dos episódios que marcaram sua passagem pelo jornal foi a cobertura da deposição por golpe militar do presidente chileno Salvador Allende, em 11 de setembro de 1973. Como a censura havia proibido a publicação de qualquer manchete sobre o assunto, Dines coordenou com o diagramador Ezio Esperanza a edição de uma primeira página sem manchete.

Jornalista, professor e biógrafo
Em 1963, criou e ocupou a cadeira de Jornalismo Com¬parado no curso de Jornalismo da PUC-Rio. Neste mesmo ano, dirigiu e colaborou regularmente com os Cadernos de Jornalismo e Comunicação editados pelo JORNAL DO BRASIL.
Em 1974 após 12 anos, afastou-se da Fatos e Fotos e viajou para os Estados Unidos, onde à convite da Universidade de Columbia, em Nova Iorque, foi professor visitante durante um ano.
Retor¬nou em julho de 1975 e assumiu a chefia da sucursal carioca da Folha de São Paulo, convidado por Cláudio Abramo. Em 1980, Dines deixou a Folha de São Paulo, demitido por Boris Casoy, após escrever um artigo denunciando a repressão do governador Paulo Maluf à greve do ABC. Nesse período, escreveu a biografia do escritor Stefan Zweig.
Em seguida assumiu o cargo de secretário editorial da editora Abril, em São Paulo. Como diretor-editorial-adjunto, participou da criação de revistas com a Exame de Portugal e instituiu os cursos de extensão e aperfeiçoamento.
Em Lisboa, entre 1988 e 1995, como diretor do grupo Abril em Portugal e consultor editorial da Sojornal ¾ que edita o maior semanário português, o Expresso, e o único vespertino do país, A Capital. Em 1994 criou em Portugal o Observatório da Imprensa. Concluiu e editou a biografia de Antônio José da Silva, o Judeu, e o primeiro volume do livro Vínculos de Fogo.
Em abril de 1996, lançou a versão eletrônica do Observatório da Imprensa, jornal de crítica e debate sobre o jornalismo contemporâneo, que passou a ter uma edição na TV Educativa do Rio de Janeiro (atual TV Brasil) em maio de 1998, e meses depois passou também a integrar ao vivo a programação da Rádio e Televisão Cultura de São Paulo.
Em maio de 2005, foi lançado o programa de rádio diário, transmitido em emissoras públicas e educacionais. Os áudios dos programas estão disponíveis no site do Observatório da Imprensa no formato de podcasts.
Em fevereiro de 2016 foi ao ar o último programa inédito com entrevista a Anita Leocádia (filha do líder comunista Luis Carlos Prestes). Até março ainda foi possível assistir algumas reprises. E, depois disso, o programa não mais voltou, devido ao afastamento de Alberto Dines por motivos de saúde. Pela TV Cultura, o último programa foi ao ar em 29 de Abril de 2008, e o primeiro, em 05 de Maio de 1998.
Publicações
Vinte histórias curtas (contos, em co-autoria, 1960), Os idos de março e a queda de abril (co-autoria e organização, 1964), O mundo depois de Kennedy (1965), Jornalismo sensacionalista (em co-autoria, 1969), Comunicação e jornalismo (1972), Posso? (contos, 1972), O papel do jornal (1974), E por que não eu? (sátira política, 1979), A imprensa em debate (em co-autoria, 1981), Morte no paraíso – A tragédia de Stefan Zweig (bio¬grafia, 1981), O baú de Abravanel: uma crônica de sete séculos até Silvio Santos (biografia, 1990), Vínculos de fogo: Antônio José da Silva, o Judeu, e outras histórias da Inquisição em Portugal e no Brasil(biografia, 1992, volume 1), 20 textos que fizeram história (1992), As transformações da revolução global e o Brasil (1995), Diários completos do capitão Dreyfuss (organizador, 1995).
(*) Prisioneiro no governo militar
Em depoimento ao Centro de Cultura e Memória do Jornalismo (CCMJ), do SJPMRJ , Dines relatou os dois episódios em que foi preso, por sua incansável defesa da democracia e liberdade de imprensa:
“Eu era professor da PUC desde 1963 e os meus alunos me escolheram como paraninfo. Já tinha preparado um discurso que era obrigatório fazer e o discurso que eu fiz era sobre Praga. Naquela época a coisa mais importante era a resistência do povo tcheco à opressão soviética …que foi realmente uma revolta muito importante e tinha a ver com imprensa, porque imediatamente o que havia de liberdade na Tchecoslováquia foi suprimido e nós tínhamos um correspondente em Praga que era o Mauro Santayana . E o Mauro fez uma cobertura extraordinária, ganhou um Prêmio Esso com essa cobertura porque era o único correspondente brasileiro lá e muito bem informado porque já vivia na Tchecoslováquia há algum tempo. E o meu discurso era todo ele voltado pra coisa da Tchecoslováquia, a favor da liberdade, da democracia, da cultura. Evidentemente quando se deu o AI-5, na semana da formatura , que ia ser na sexta-feira seguinte, eu refiz o discurso, tinha que atualizar, claro que eu sabia que eu não devia fazer menção direta ao que tinha acontecido no Brasil, mas eu tinha que mudar, em falar da liberdade de imprensa, em falar das forças, da escuridão, uma série de coisas que eram metáforas, pelo menos as metáforas eu não poderia deixar de fazer e fiz um discurso bastante agressivo. “
Leia a integra do depoimento
Assista aos vídeos sobre o AI 5 e as passeatas de 1968

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