Juan “Papí” Díaz Bordenave é considerado por especialistas um dos pais do pensamento latino-americano da comunicação.
E não é para menos: depois do doutorado na Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, em 1966, o professor paraguaio atuou com comunicação agrícola no Instituto Interamericano de Cooperação pela Agricultura e respondeu, em livro, uma das perguntas mais fundamentais: O que é comunicação? (editora Brasiliense).
Na obra, lançada na década de 1980, o autor disseca os limites da linguagem e mostra como a troca de informações está presente em figuras imperceptíveis do cotidiano. Para Bordenave, a comunicação confunde-se com a vida. Ele também escreveu, entre outras dezenas de livros, Além dos meios e mensagens (editora Vozes), lançado originalmente em 1983.
Definiu a si mesmo como “um prático da comunicação que precisou da teoria e apelou a ela em nível suficiente para entender, para ajudar o público”, em entrevista a Guilherme Rezende no estudo O plantador de utopias: a vida e a obra de Juan Diaz Bordenave (1996).
Na última quinta-feira (22/11), duas semanas depois de receber homenagem de amigos e colegas num teatro na cidade de Assunção, capital do Paraguai, o doutor em Comunicação faleceu no Rio de Janeiro, aos 86 anos, vítima de infecção respiratória.
Bordenave havia se mudado para a capital carioca para morar com sua família numa casa no Jardim Botânico. Ele é pai dos atores Chico e Enrique Díaz. O primeiro nasceu em Lima, no Peru, o outro, na Cidade do México. Ambos atuaram em diversas produções da televisão brasileira.
Em setembro, o intelectual, que fazia parte do Conselho Nacional de Educação de seu país, participou da conferência de abertura do Seminário Mídia e Cotidiano: Discursos Midiáticos e Práticas Sociais, na Universidade Federal Fluminense (UFF). E em maio esteve no Congresso da Asociación Latinoamericana de Investigadores de la Comunicación, no Uruguai, onde foi ovacionado por jovens e veteranos pesquisadores da área.
“Ele foi um dos precursores dos estudos comunicacionais na América Latina. No Brasil, foi leitura obrigatória nos cursos de Comunicação Social”, lembra a diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio, Carmen Pereira.
“Bordenave não se considerava um teórico com ideias próprias, mas um bom articulador e divulgador de teorias elaboradas por outros”, reflete a jornalista. “Mesmo assim, sua produção tem subsidiado trabalhos acadêmicos e dissertações de mestrado nas áreas de educação, comunicação e sociologia rural”, completa Carmen, que é professora de Jornalismo.
O Ministério da Educação e Cultura do Paraguai divulgou nota, na quinta-feira, apontando o escritor como um “educador incansável, intelectual comprometido com as causas latino-americanas e dos setores populares”.
No início da última década, Papi Bordenave fez parte da Comissão de Verdade e Justiça paraguaia, que investigou crimes da ditadura de Alfredo Stroessner (1954-1989). O relatório final deste grupo de trabalho apresentou, pela primeira vez, dados precisos sobre o horror do regime militar paraguaio: mais de 18 mil opositores torturados e 20 mil pessoas presas de forma arbitrária.