Por Fábio Lau, no Conexão Jornalismo
Não é coincidência. Eis que no bojo da apuração da morte do cinegrafista da Band, Santiago Andrade, vítima de um artefato de fogo disparado em frente ao Palácio Duque de Caxias, no centro, há alguns dias, todos os focos de resistência aos governos estadual, municipal e do modelo tradicional da mídia passam a se ver no caldeirão do diabo. Com a chama consumindo, dia após dia, sua resistência. Saiba mais.
Marcelo Freixo, Renato Cinco e outros mais fazem parte de um grupo que bate tambor diferente. O primeiro, contra a limitação da sorte que costuma poupar os corajosos, peitou milicianos, cassou mandatos e sobreviveu. O vereador Renato Cinco, que nada contra a corrente conservadora quando defende a liberalização do consumo da maconha, era um alvo em potencial. O mesmo pode-se dizer de pelo menos mais um da lista: o delegado Orlando Zaconi. Ex-jornalista, um homem inteligente e espiritualizado, ligado ao hinduísmo via Hare Krishna, foge ao estereótipo do delegado oficial.
Zaconi é uma versão mais bem comportada de outro delegado que arrepiou cabelos da classe média há 20 anos: Hélio Luz. Aquele, barbudo, alvinegro e petista, era uma ameaça a ordem de um grupo muito habituado a ver a polícia fazer, fazer e acontecer. Mesmo que ao “arrepio da lei” – como se dizia à época.
Mas neste pacote, ainda não totalmente esmiuçado, tem sobrado para a presidenta do Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio. Paula Máiran, uma representante legítima do proletariado das redações – e não são poucos – chega ao poder mais ou menos com o mesmo compromisso de outros imigrantes que ascendem: com a obrigação de não errar. Tarefa difícil.
Por sorte Paula não errou. Em nada. O que de mais grave tem se falado da líder de dez dedos é que poderia ter apimentado uma nota oficial em que cita a morte de Santiago Andrade. Deveria, segundo a corrente de pensamento que agora deu para adorar nota oficial, ter se travestido de Rachel Sheherazade e pedido a cabeça dos suspeitos em bandeja de prata. Não é o estilo de Paula. Nem meu ou de qualquer um dos bons jornalistas que conheço.
E tem mais: ninguém, da turma que destila ódio aos encaldeirados de agora, daria reprimenda em Sheherazade. Por medo e amor aos detratores de plantão. Há no grupo dos javalis de cativeiro aqueles que sufocam, mas não retiram a boca do formato do ovo imaginário. Aduladores históricos. Amantes dos feitores. Mas atacam Paula Máiran. Estão aí para agradar.
E para não deixar passar em branco, Sheherazade não deveria correr para a fila de adoção dos “justiceiros” do Flamengo aos quais elevou à condição de heróis. Um deles é dado às coisas do estupro.
Os milicianos defenestrados por Freixo a partir da CPI presidida por ele estavam sob a defesa do mesmo advogado de agora, Jonas Tadeu. O homem dos fios implantados, generoso como poucos, nada recebe pela defesa larga dos acusados. Defesa que atiça fogo contra Freixo e partidos de esquerda. Varrer a rua de opositores tem sido a regra na coincidência.
Doar dinheiro a militância é o que tem permitido partidos, especialmente os de ocasião, a se manterem de pé. Não há militante nos tempos atuais que segure placas de um ou outro candidato se não for bem alicerçado por dinheiro. Portanto, até aí nada demais. E, antes que o tempo de escrita acabe, que tal cobrarem da Band a sucinta explicação: por que cargas d’água o Santiago estava sem o bendito capacete que tão bem tem feito às cabeças pensantes dos ninjas da mídia independente?