Todos nós devemos ter a liberdade de tomar a decisão que acharmos mais adequada. Entretanto, a forma pela qual anunciamos essa decisão pode induzir a interpretações equivocadas. Por isso, faço questão de esclarecer alguns pontos em relação à maneira pela qual a jornalista Iara Cruz anunciou sua renúncia ao cargo que ocupava na Comissão de Ética do Sindicato dos Jornalistas do Rio (SJPMRJ).
Iara já vinha avaliando essa possibilidade e comunicou sua decisão aos demais membros da Comissão em email na tarde do dia 8 de agosto. Pouco depois, em seu mural no Facebook, reproduziu o texto que publicou na página do Sindicato. Reconhece que a Comissão é independente, mas diz não se sentir à vontade de continuar participando da entidade, por discordar da atuação da atual diretoria.
Entretanto, ao responder a uma indagação sobre o relatório que a Comissão deveria ter apresentado na plenária do último dia 7, relativo aos fatos recentes que provocaram um abaixo-assinado de centenas de jornalistas pela destituição da diretoria, Iara disse: “Não pertenço mais à comissão e não assino o relatório. A presidente deverá publicá-lo. Não sei o que será feito”.
Diante das inevitáveis especulações que essa declaração provocaria, é meu dever esclarecer o seguinte:
1. O documento, que infelizmente não foi lido na plenária, está publicado na página do Sindicato, como já deve ser de conhecimento de todos quantos estão acompanhando as discussões.
2. O documento começou a ser discutido pela comissão no dia 3 de agosto. Redigi uma primeira versão, enviada por email às 17h48.
3. No dia 4 (data original da plenária), às 16h41, fiz acréscimos ao texto e enviei esta nova versão aos colegas.
4. No dia 5, às 19h49, fiz mudanças após os comentários do Dante Gastaldoni e novamente mandei o texto para apreciação.
5. No dia 6, às 18h06, Iara escreveu mensagem em que considera o relatório “excelente” mas faz duas sugestões de alteração. As sugestões são acolhidas na íntegra.
6. Ainda no dia 6, revi o texto, diante da nota que o Sindicato publicou, pedindo desculpas por ter mantido a coletiva que provocou a crise. Enviei a versão final – esta que foi publicada agora – no dia 7, às 7h10, pouco antes de ir para a clínica onde realizaria o exame marcado há meses, que lamentavelmente me impediu de participar da plenária.
7. Ainda no dia 7, às 13h42, Iara enviou mensagem ao grupo considerando o texto “impecável”. Pedia pequenas modificações, que eram as mesmas já acolhidas anteriormente. Entretanto, pouco mais de quarenta minutos depois, às 14h25, mandaria nova mensagem reafirmando seu desejo de assinar o documento mas com a ressalva de que apenas a presidente da CE ouviu uma única participante da coletiva e que ela, Iara, gostaria de ter ouvido os outros participantes, o que foi considerado desnecessário pelos demais.
8. Só tomei conhecimento dessas duas últimas mensagens no dia seguinte, porque infelizmente só consegui realizar o exame no fim da tarde e na clínica fiquei sem acesso à internet e praticamente o tempo todo sem sinal de celular. Voltei debilitada e só me recuperei na manhã seguinte.
De qualquer modo, este último pedido não poderia ser aceito.
Primeiro: se era tão necessário ouvir mais jornalistas que cobriram a coletiva, por que isso não foi dito logo de início?
Segundo: se eu tomei a iniciativa de apurar com uma jornalista, por que Iara não fez o mesmo com outros?
Terceiro, e talvez mais importante: a ressalva poria em dúvida o meu relato sobre o ocorrido – eu não seria confiável ou, no mínimo, minha apuração seria insuficiente – e insinuaria que os demais membros da Comissão são relapsos ou, no mínimo, se satisfariam com muito pouco.
Obviamente, portanto, não seria possível aceitar esta última demanda.
Este foi o processo de deliberação, tendo em vista a urgência em que nos encontrávamos.
Não compreendo por que um documento considerado “excelente” e “impecável”, que foi discutido coletivamente e teve praticamente todas as sugestões acolhidas, não seria assinado por quem participou do processo desde o início.
Respeito a decisão da Iara, que fez o que achou mais correto. Mas a forma como o fez me levou a prestar esses esclarecimentos. Espero que sejam suficientes para evitar especulações a respeito da conduta da Comissão de Ética.
De minha parte, considero que uma renúncia só se justificaria se a Comissão sofresse algum tipo de constrangimento e não pudesse trabalhar adequadamente. Não é o que ocorre. Pelo contrário, nossa autonomia sempre foi respeitada. Por isso, especialmente neste momento de elevada tensão, é preciso permanecer e valorizar essa instância tão relevante para a preservação do respeito aos princípios fundamentais que regem a nossa profissão.
Sylvia Moretzsohn, presidente da Comissão de Ética do SJPMRJ