“Meu sonho é ser jornalista, porque o jornalismo além de comunicar, informa e educa uma sociedade”, disse a transexual, Bárbara Aires, aluna do “Prepara,NEM”. Preparatório para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o curso é dirigido para pessoas travestis e transexuais, no Rio de Janeiro. Todos os dias, as alunas e os alunos percorrem uma dura trajetória, mas não perdem o olhar atento nas aulas. “O poder público ignora as pessoas trans e travestis de suas políticas públicas. Sabemos que a evasão das pessoas trans e travestis das escolas é muito alta. O Prepara, NEM! surge para criar um ambiente de formação inclusivo, colaborativo e solidário”, explicou a ativista Indianara Alves Siqueira, também presidenta do Transrevolução e uma das idealizadoras do cursinho.
Aos 25 anos, Bárbara já trabalhou por dois anos como produtora do programa “Amor e Sexo”, da Rede Globo. “A experiência de ter trabalhado na TV foi mágica. A partir dai, vi que eu poderia ser alguém, ter uma profissão e lutar por outras narrativas nos meios de comunicação. É imprescindível que a informação seja passada de forma clara e também respeitosa, sempre diferenciando identidade de gênero de orientação sexual e tratando pessoas trans de acordo com sua identidade de gênero”, enfatizou. Ela enfrenta uma dura rotina pela sobrevivência, por conta da dificuldade de inserção no mercado formal de trabalho. “Embora tenha uma formação como cabeleireira em uma das mais respeitadas instituições do Rio de Janeiro, as empresas não contratam. Essa prática vale para todas as empresas e instituições. As pessoas precisam olhar para os lados e refletir sobre a inclusão e cidadania de pessoas transgêneras”, disse.
Nos últimos dias, diversos veículos de comunicação pautaram o “Prepara,NEM”, contribuindo para a visibilidade da causa. “Outra narrativa é possível. O diálogo com os jornalistas é fundamental para a compreensão da diferença de identidade de gênero e orientação sexual. As matérias veiculadas promovem a diversidade, os direitos humanos e o empoderamento, mas ainda temos um longo percurso. Por exemplo, quantas pessoas trans são ouvidas como fontes em outras matérias sobre economia, cultura, política? Precisamos transversalizar a visibilidade trans na comunicação”, disse a diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro, Camila Marins, jornalista e ativista que contribui com a comunicação do cursinho.
“Há lugares em que a escola não chega e onde a imprensa se torna fonte de educação. Há pessoas que são até alfabetizadas a partir da mídia. É uma grande responsabilidade. O jornalista tem esse papel de tornar a sociedade mais acolhedora para todas as pessoas que a compõem”, concluiu Indianara Siqueira.
O cursinho conta com o apoio do grupo Tem Local, que promove uma rede nacional de mapeamento sobre denúncias de LGBTIfobia. As aulas acontecem no Sindicato dos Jornalistas, no Sindicato dos Petroleiros, na Casa Nuvem e no Grupo Pela Vida.