O Sindicato recebeu no início da noite desta sexta-feira (08/08) o parecer da Comissão de Ética sobre denúncias de que a atual diretoria descumpriu normas do Código de Ética dos jornalistas. Segue abaixo o texto na íntegra:
As comissões de ética dos nossos sindicatos têm por obrigação regimental apreciar denúncias contra jornalistas acusados de descumprir o Código de Ética da categoria. Também podem agir sem serem provocadas.
Quando tomou posse, em agosto do ano passado, a Comissão de Ética do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro decidiu que pautaria sua atividade principalmente na valorização do debate sobre temas relativos à ética jornalística. Não apenas porque reconhece as limitações do alcance das sanções previstas no Código, mas sobretudo porque entende que privilegiar o diálogo é o melhor caminho para a resolução de conflitos.
Foi com essa orientação que a Comissão procurou buscar esclarecimentos sobre os incidentes durante a entrevista coletiva com parentes e advogados de manifestantes presos, na sede do nosso Sindicato, no dia 25 de julho, e a reação que o caso provocou entre a categoria.
A Comissão solicitou uma reunião com a diretoria da entidade. O encontro ocorreu na última sexta-feira, dia 1º de agosto. A presidente do Sindicato explicou que a coletiva havia sido marcada a pedido dos grupos Tortura Nunca Mais e Justiça Global e tinha basicamente dois objetivos: dar aos parentes dos ativistas, que não se consideravam contemplados pela imprensa, a oportunidade de oferecer a sua versão dos fatos, e proporcionar um ambiente de diálogo capaz de evitar a repetição de agressões cometidas por manifestantes contra jornalistas.
Entretanto, a libertação dos presos na véspera da coletiva e o tumulto ocorrido na saída do presídio, com novas cenas de violência contra os repórteres, acabou mudando o caráter da reunião. A presidente do Sindicato disse que precisou atuar como mediadora, o que não estava previsto, e em vários momentos teve de intervir em defesa dos jornalistas, seja pelas acusações que lhes eram feitas, seja porque os repórteres estavam sendo confrontados pelos presentes e tinham dificuldades em fazer perguntas.
Afirmou, entretanto, que os jornalistas não foram expulsos do seu Sindicato. Esta versão, veiculada por parte da imprensa, passou a prevalecer e foi um dos motivos que levaram um numeroso grupo de jornalistas se manifestar duramente contra a direção da entidade.
Antes de se reunir com a diretoria, a presidente da Comissão procurou conversar com quem participou da cobertura daquela coletiva. Obteve informações que confirmam a atuação da presidente do Sindicato em favor dos profissionais ali presentes e que os repórteres de fato não foram expulsos, mas ofendidos, intimidados e constrangidos. Não apenas pela intervenção agressiva que marcou a fala inicial dos parentes dos manifestantes, mas pela tentativa de sufocar os argumentos dos repórteres que tentavam fazer perguntas, e pelas palavras de ordem entoadas num dado momento da reunião, com o ameaçador “vocês vão nos pagar”.
Na tarde desta quarta-feira, 6 de agosto, a Comissão tomou conhecimento da nota divulgada pela diretoria do Sindicato, que pede desculpas e reconhece ter sido equivocada, diante do contexto que se apresentou, a manutenção do auditório do Sindicato como sede para a reunião previamente agendada.
Diante dos fatos e seus desdobramentos, a Comissão concluiu o seguinte:
1. Foi importante reconhecer o erro na decisão de sediar a coletiva com parentes de manifestantes. Mas não apenas naquele contexto específico, tendo em vista os acontecimentos da véspera, mas em qualquer hipótese, devido às recorrentes acusações contra os jornalistas, seria improvável a preservação de um clima adequado para o diálogo.
2. Os jornalistas não foram expulsos, como indevidamente se noticiou, mas ofendidos, intimidados e constrangidos em sua própria casa, o que é inaceitável.
3. Ainda que se considere que as palavras de ordem pudessem ser as usualmente cantadas para protestar contra as prisões, repeti-las no auditório do Sindicato é um abuso, pois obviamente a ameaça de que “vocês vão nos pagar” passa a se endereçar aos jornalistas.
4. A presidente do Sindicato de fato defendeu os repórteres e tentou apaziguar os ânimos, numa reunião marcada por uma tensão permanente.
A Comissão constata que é falso dizer que o Sindicato tenha protestado apenas contra a violência policial, como muitos colegas têm sustentado. Aliás, na própria página da entidade é possível ver as inúmeras ações que a diretoria realizou em defesa da segurança dos profissionais, além das notas de protesto contra as agressões que sofreram. A Comissão entende, entretanto, que a condenação aos ataques promovidos por ativistas foi sempre acompanhada por uma ressalva a respeito da cobertura das manifestações e do papel da mídia na apontada “criminalização dos movimentos sociais”.
Assim, considera que o episódio do dia 25 de julho e seus desdobramentos significaram o ponto culminante de um processo em que as críticas à atual gestão do Sindicato foram se acumulando diante de reações ambíguas em relação às recorrentes agressões de manifestantes contra jornalistas.
Se é verdade que não podemos deixar de criticar o noticiário – e é em parte por isso que existem as comissões de ética –, também é certo que a condenação à violência contra os jornalistas não admite ressalvas. Do contrário, parece que essa violência, quando cometida por manifestantes, pode ser justificada, ou pelo menos explicada, pelo seu ódio à mídia, que recai sobre quem está na rua exercendo seu ofício.
A Comissão considera que a diretoria do Sindicato não pode ser acusada de descumprir o Código de Ética. Acredita que a nota agora divulgada indica uma louvável atitude de autocrítica, ao mesmo tempo em que rebate acusações falsas e reafirma o compromisso de luta em favor da categoria.
Por fim, a Comissão deplora os termos da nota oficial da ABI, publicada em seu site no dia 4 de agosto, com flagrantes inverdades e deturpações a respeito do que ocorreu na reunião de 25 de julho. Felizmente, foi possível rebater a tempo as informações falsas, que apenas serviriam para acirrar ainda mais os ânimos. Em momentos críticos, manter a serenidade é ainda mais importante para que possamos estabelecer um ambiente de diálogo, sem o qual nenhuma crise é superada.
Rio de Janeiro, 07 de agosto de 2014