“A técnica tem que estar a serviço do jornalista e não o contrário”, disse o sociólogo francês Dominique Wolton durante a conferência de abertura do 36º Congresso Nacional dos Jornalistas, na última quarta (26), em Maceió. Talvez sem saber, a frase que proferiu acabou por dar o tom das discussões entre os mais de cem delegados de todo país nas mesas e plenárias do encontro, que terminou no domingo (6). Ao contrário da maioria, que defendia o caráter estritamente técnico do jornalismo e era sintetizada pela programação do evento, a delegação do Rio foi contundente na defesa da valorização da profissão por meio de sua mobilização em defesa dos direitos humanos e de seu código de ética, para além dos manuais de instrução. E era a isso que Wolton se referia.
A delegação do Rio conseguiu aprovar por unanimidade as teses ‘jornalismo e deficiência’ e ‘EBC: em defesa dos trabalhadores da comunicação pública’ as moções de repúdio ao projeto de lei antiterrorista que tramita no Congresso Nacional e sobre a cobertura jornalística da ocupação militar no Complexo da Maré. Foi derrotada, no entanto, proposta que criticava o jornal alagoano Tribuna Independente pela cobertura enviesada do protesto de jornalistas durante a passagem do ministro Aldo Rebelo pelo evento, recebido com cartazes de ‘Copa pra quem?’. O jornal editado pela Cooperativa dos Jornalistas e Gráficos do Estado de Alagoas figura como ‘mídia parceira’ no site do encontro, ao lado da Gazeta de Alagoas, propriedade da família Arnon de Mello.
Foi surpreendente ainda a rejeição a uma moção de repúdio à Rede Brasil Amazônia de Comunicação, que demitiu 16 jornalistas que já vinham sendo perseguidos após participarem de uma greve no ano passado. O veículo pertence ao senador Jader Barbalho (PMDB). Temas como esse, relacionados à realidade do mercado de trabalho, tiveram pouco destaque na programação do Congresso, apesar de as conversas entre os jornalistas apontarem para uma situação comum em todo país, com salários baixos e ações autoritárias e antissindicais, afirmam os delegados.
Esse bom diálogo com jornalistas de outros estados, além da acessibilidade nas dependências do Centro de Convenções de Maceió e do hotel, foram os pontos altos do Congresso, de acordo com a delegação carioca. Veja o que eles disseram:
“Além dos aspectos comuns a eventos dessa natureza, que me surpreenderam positivamente, o 36º Congresso Nacional dos Jornalistas também me agradou na questão da acessibilidade para pessoas com deficiência. Informada da minha condição de cadeirante, a organização do congresso me ofereceu transporte adequado e quarto de hotel acessível, com banheiro corretamente adaptado [Leia a íntegra].” – Andrei Bastos
“O Congresso Nacional de Jornalistas representou um importante espaço de diálogo com colegas de outros estados. Mesmo com o tema principal sobre democracia, presenciamos poucas mulheres e negros como debatedores nos painéis. O debate sobre o mundo do trabalho e suas transformações nos trouxe importantes reflexões sobre a crise de identidade de classe que vivemos: nós jornalistas, somos trabalhadores, e não patrões [Leia a íntegra].” – Camila Marins
“Foi importante participar do congresso, conversar com colegas de outros estados e ver que a realidade de opressãol, com salários baixos e ações patronais autoritárias e antissindicais, não é apenas uma realidade carioca. Mas a pauta e os palestrantes foram uma mostra do descolamento da nossa federação com a realidade da categoria. Muitos debates sobre o jornalismo e só uma mesa dedicada à realidade do mundo do trabalho [Leia a íntegra].” – Claudia Abreu
“O Congresso dos Jornalistas é uma mistura de dois aspectos: por um lado, demonstração de falta de isonomia e de democracia, devido às posturas da atual direção da Fenaj; por outro, a possibilidade, ainda limitada, de intervir diretamente no rumo do nosso sindicalismo. No congresso, também foi possível dialogar com diversos colegas de outros estados que, assim como nós, compreendem a gravidade do momento por que passa a nossa profissão [Leia a íntegra].” – Daniel Fonsêca
“A disputa entre o caráter político do jornalismo versus o tecnicista permeou todo o debate realizado por nossa categoria representada pelos mais de 100 delegados e observadores participantes do congresso de Maceió. A defesa do tecnicismo do jornalismo se fez clara no discurso do Estado e dos patrões presentes não só nas mesas de debates como nas marcas dos patrocinadores do evento [Leia a íntegra].” – Paula Máiran
“Nos últimos dias passei por experiências realmente emocionantes e, ao mesmo tempo, de aprendizado total, no Congresso Nacional dos Jornalistas. Observar como a categoria luta por seus ideais foi muito construtivo, já que nós, estudantes, seremos os próximos a continuar este grande movimento sindical [Leia a íntegra].” – Bennio Augusto Briolly