Abertas as inscrições para o Prêmio Abdias

Um Heraldo Pereira de fala mansa, cativante mas firme em suas posições fez uma palestra brilhante, seguida de debate. No final, foi muito aplaudido e cumprimentado pela plateia, no auditório do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro, na quinta-feira (10/5). A palestra marcou a abertura das inscrições para o Prêmio de Jornalismo Abdias Nascimento, que tem por objetivo estimular as reportagens que contribuam para a prevenção e o combate da discriminação racial.
Heraldo disse que existe, sim, racismo no Brasil. E que como qualquer negro já sentiu isso de diversas formas no olhar do porteiro do edifício ou do policial na rua.
O jornalista, que também é advogado, considerou histórica a decisão do Supremo Tribunal Federal, ao aprovar a política de cotas por unanimidade. Mas fez uma ressalva: “O resultado do julgamento só foi de 10 a 0 por causa de uma demonstração de racismo dentro do tribunal.˜
Heraldo se referia a uma declaração do ministro Cezar Peluso sobre seu colega Joaquim Barbosa, dias antes do julgamento: “A impressão que tenho é de que ele tem medo de ser qualificado como arrogante. Tem receio de ser qualificado como alguém que foi para o Supremo não pelos méritos, que ele tem, mas pela cor”, disparou Peluso.
“Toda vez que se destaca a cor com negatividade é um caso de racismo”, expôs o jornalista. Pereira também considerou um marco a Lei Caó, que pune o crime de racismo com cadeia. O autor da lei, Carlos Alberto de Oliveira Caó, ex-presidente do Sindicato dos Jornalistas e ex-deputado Constituinte, estava entre os presentes ao debate e foi muito aplaudido.
Heraldo Pereira falou ainda das diferenças entre o jornalismo cidadão e o político-partidário – sem citar diretamente as recentes desavenças jurídicas com Paulo Henrique Amorim, apresentador na Rede Record. “Na busca da notícia o jornalista não pode ter um posicionamento político, mas pode ter um posicionamento de cidadania”, disse Pereira.
Inscrições
Desde a manhã da última quinta-feira, com a palestra de Heraldo Pereira, a segunda edição do Premio Abdias Nascimento já está aberta para inscrições. Para este ano, a proposta é ampliar a participação de jornalistas e ultrapassar as 150 inscrições feitas em 2011. “Em abril visitamos redações de seis capitais para divulgar o prêmio”, destaca Angélica Basthi, coordenadora da Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial (Cojira-Rio). A entidade, junto com o Sindicato dos Jornalistas, organiza a disputa.
“O prêmio busca promover o jornalismo que lute pela igualdade, pelo bem comum e que seja voltado para o interesse público”, lembra Suzana Blass, presidente do Sindicato. O evento contou com a presença da viúva do senador e jornalista Abdias Nascimento, Elisa Larkin.
Foto: Zezzynho Andraddy