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domingo, maio 5, 2024
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Audálio lança livro sobre assassinato de Vlado Herzog

No dia 27 de outubro de 1975 o então presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, Audálio Dantas, compareceu com a diretoria da entidade a uma unidade do 2° Exército, na capital paulista. A convocação dos militares tinha objetivo claro: mostrar por meio de fotografias que Vladimir Herzog se suicidara na prisão.
“Na hora em que batemos os olhos nas fotos sabíamos que ele havia sido assassinado”, lembra Dantas. Fazia cerca de 30 horas desde a morte do jornalista e o sindicato organizava atos para expor o inquestionável. Assim, a morte de Vlado marcava um capítulo nos sequestros de profissionais da imprensa por agentes da ditadura.
Os meandros deste caso, e as transformações que provocou, estão expostos no livro A Segunda Guerra de Vlado Herzog. “É um pouco da história dele em sua primeira guerra, na Europa, e esta guerra que ele perdeu aqui”, conta Audálio Dantas, autor do livro que deve chegar às livrarias pela editora Record neste segundo semestre.
“Estou contando toda essa história de dentro para fora, como membro do Sindicato dos Jornalistas, e a partir de minha visão pessoal”, destaca Dantas, que esteve no Rio no final de maio para participar do seminário “Jornalismo de Risco no Brasil: Tim Lopes, 10 anos depois”, promovido pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e pela Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP, na sigla em espanhol).
A seguir, trechos da entrevista de Audálio Dantas, hoje conselheiro do Instituto Vladimir Herzog, ao site do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio.
Com a criação da Comissão da Verdade há esperança de um veredito oficial e definitivo sobre o sequestro e assassinato de Vladimir Herzog e de outros jornalistas?
Esperamos que o caso seja efetivamente investigado pela Comissão da Verdade e os responsáveis sejam chamados a depor, explicar o que aconteceu. Neste sentido, a comissão é uma vitória, mesmo que vigore essa decisão absurda de que a anistia se aplica também aos assassinos e torturadores. Esperamos que o caso seja investigado para que se saiba quem foram os autores (do assassinato). A tortura e o assassinato de presos políticos são considerados crimes contra a humanidade. Portanto, não se deve invocar a Lei da Anistia.
A declaração de Silvaldo Vieira, autor da fotografia na qual se tentou simular o suicídio de Vlado, à Folha de S. Paulo, confirmando o assassinato, dá mais força à apuração do caso?
A partir da denúncia do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, em nenhum momento se aceitou a versão de suicídio. Não precisaria declaração do fotógrafo. Aliás, isso precisa ser discutido: foi ele (que tirou a foto)? Quem deu a ordem? Por que se escondeu o fato de que havia mais uma barra na grade que poderia evitar que o suposto suicida não ficasse com os pés no chão com joelhos dobrados?
Quais foram as atitudes do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo após saber da morte de Herzog?
Vínhamos num processo de vinte dias de alta tensão. O sequestro de jornalistas se dava sucessivamente. A única coisa que podíamos fazer era mandar notas para as redações dos jornais – muitos não publicavam – dizendo que o jornalista tal desapareceu. Esperávamos que a qualquer momento pudesse acontecer algo do tipo. Acabou acontecendo com Vlado. Foram dias de terror. Denunciamos o assassinato já no dia seguinte, 26 de outubro, com nota responsabilizando a autoridade pela guarda e custódia daquele prisioneiro. Realizamos um culto ecumênico no dia 31, que significou continuar fazendo denúncia.
O livro trata bem dessa história…
É um livro que eu estava devendo. Desde o episódio achava que deveria escrever. Mas me sentia tolhido por ser uma pessoa envolvida emocionalmente com o caso. Este distanciamento talvez tenha sido bom e agora eu acho que a história está sendo contada com o máximo de veracidade.

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