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quinta-feira, maio 2, 2024
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Feridas abertas um ano após a morte de Gelson

No início da manhã do dia 6 de novembro de 2011, o Rio de Janeiro perdia pela primeira vez um jornalista vítima de disparo de arma de fogo enquanto cobria uma operação policial. Gelson Domingos, repórter cinematográfico da TV Bandeirantes, foi atingido no peito. A bala de fuzil atravessou o colete que ele usava como se fosse papel, quando fazia imagens de conflito entre policiais e traficantes na favela de Antares, Zona Oeste da cidade.
O tiro partiu dos traficantes e segundo a polícia foi disparado por Erisson Lopes de Souza. Esta sequência trágica, observada um ano depois, expõe questões sobre segurança que seguem há muito na pauta dos jornalistas e do Sindicato.
Onde foi parar o assassino? No dia 29 de maio, às vésperas dos dez anos da morte de Tim Lopes, a Polícia Civil divulgou o nome e retrato do homem acusado de matar Gelson Domingos. Erisson Lopes de Souza tem ordem de prisão expedida. Porém, até agora, não foi capturado. A Delegacia de Homicídios levanta a possibilidade de Erisson ter sido assassinado pelo próprio tráfico.
Que coletes são esses? O Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio já havia levantado o problema junto aos veículos de comunicação: os coletes à prova de balas fornecido pela maioria das empresas não protege contra os fuzis usados por traficantes e policiais da cidade. Os patrões, porém, não dão a devida importância quando o assunto é a segurança de seus profissionais. Em maio de 2009, o Sindicato levou o caso ao Senado. Quatro meses depois, cobrou reunião da comissão de segurança – formada por patrões e representante dos empregados.
O resultado dos cursos de segurança? A partir da comoção com a morte de Gelson Domingos, um curso de segurança para jornalistas em áreas de risco foi patrocinado pelas empresas de comunicação do Rio. Com organização da Abraji e do Sindicato, as aulas foram ministradas por especialistas do Insi. Formaram-se 47 jornalistas dos principais veículos de comunicação do Rio. Durante o curso, os professores – ex-militares do exército britânico – deixaram claro que boa parte dos coletes usados pela imprensa pouco serve para proteção.
Operador de câmera? Trata-se de uma batalha jurídica antiga do Sindicato dos Jornalistas: obrigar as empresas a contratar regularmente os repórteres cinematográficos. Gelson Domingos, na TV Bandeirantes, tinha carteira assinada como operador de câmera – uma função da categoria de radialistas. Infelizmente, esta prática é comum em muitas empresas. Na Acerp, fornecedora de conteúdo da TV Brasil, uma denúncia do Sindicato ao Ministério Público obrigou a Associação a regularizar a situação de 12 profissionais.
E a Comissão de Segurança? O Sindicato propôs, ainda em 2009, a criação de uma comissão de segurança em cada redação. Esta comissão, composta por profissionais de jornalismo da empresa, ficaria encarregada de avaliar coberturas de risco e, o mais importante, daria o suporte ao repórter que se negar a cobrir situações de perigo. Os patrões têm recusado a proposta nos últimos três anos, inclusive após a morte de Gelson Domingos.

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