Na realidade do Rio de Janeiro, cada jornalista, ao cobrir operações policiais em áreas de risco, deveria usar colete à prova de balas com potencial de proteção para tiros de fuzil, feito especialmente para o profissional, desenhado de acordo com seu porte físico. Começa por aí a responsabilidade de um veículo de comunicação com a segurança do profissional de imprensa.
Este cenário foi exposto por Ryan Swindale e Caroline Neil, especialistas no assunto e instrutores do International News Safety Institute (Insi), entidade que atua em diversos países treinando jornalistas que cobrem situações de conflito. “Se o ambiente é de armas pesadas, a empresa precisa garantir a segurança dos profissionais com colete de maior proteção”, destaca Ryan Swindale, ex-integrante do Exército britânico.
Swindale e Caroline estiveram no Rio de Janeiro durante a última semana de agosto ministrando curso de proteção para a imprensa em cobertura em áreas de risco. Durante as aulas, que contaram com a participação de 47 profissionais – entre repórteres, produtores, repórteres fotográficos e cinematográficos e motoristas – dos principais veículos de comunicação do município, Swindale deixou claro que armas como fuzil, utilizadas com frequência tanto pela polícia como por traficantes, exigem um colete à prova de balas de maior proteção.
No entanto, muitas empresas negam este comprometimento com a segurança de seus jornalistas. Ainda que tenham financiado o curso do Insi, após exigência do Sindicato dos Jornalistas na mesa de negociação, os patrões não querem incluir no acordo coletivo cláusulas que garantem a obrigatoriedade do fornecimento de proteção adequada aos funcionários na cobertura de pautas policiais.
“Cada um (da equipe de reportagem) tem que ter o seu colete, com suas medidas, inclusive o motorista”, destaca a instrutora inglesa Caroline Neil. “É importante que o jornalista esteja com roupas de cor diferente das forças policiais (na cobertura de operações). A empresa tem que combinar com a Polícia isso anteriormente”, completa Caroline, que já trabalhou como responsável pela segurança de jornalistas da BBC, emissora pública de rádio e TV da Inglaterra.
A maioria esmagadora das empresas de comunicação do Rio não segue estes alertas. Resultado: morte de profissionais como Gelson Domingos. O repórter cinematográfico, baleado em novembro do ano passado enquanto fazia imagens de tiroteio entre policiais e traficantes na favela de Antares, em Santa Cruz, pela TV Bandeirantes, usava um colete de baixa proteção – atravessado pelo tiro de fuzil.
O Curso de Segurança para Jornalistas em Área de Conflito, ministrado pelos instrutores do Insi entre os dias 27 e 30 de agosto em Deodoro, no Rio de Janeiro, é o terceiro feito a partir de parceria do Sindicato dos Jornalistas com o sindicato patronal. A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) foi responsável pela organização das aulas.
FOTO: Durante curso ministrado a jornalistas cariocas, militares atiram com fuzil em placa de cerâmica de colete à prova de balas