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quinta-feira, novembro 28, 2024
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Comissão de Ética esclarece caso de denúncia de racismo

A Comissão de Ética do SJPMRJ vem a público esclarecer a polêmica indevidamente criada pelos jornalistas Fernando Paulino e Fátima Lacerda, que divulgaram textos na internet com afirmações falsas sobre os motivos que levaram a Comissão a lhes pedir explicações sobre uma reportagem na qual uma professora acusada de racismo não fora ouvida. A matéria, intitulada “Estudante denuncia aula de racismo na UFF” , é de autoria de Fernando Paulino e foi publicada no dia 29 de agosto no site da Agência Petroleira de Notícias, coordenado por Fátima Lacerda. Teve mais de 2.200 acessos e logo foi compartilhada em redes de e-mails, muitos deles acompanhados de manifestações de espanto e surpresa.
O caso, entretanto, já havia sido analisado pelo Colegiado de Unidade do IACS no início daquele mês, onde foi lido documento em que a professora, do Departamento de Ciência da Informação, explicava que havia aplicado uma prova baseada num texto repleto de preconceitos (não apenas contra negros, mas também contra homossexuais e judeus) para testar a capacidade dos alunos de contestar aqueles argumentos. O Colegiado acolheu as justificativas da professora, amparadas ainda por um abaixo-assinado de 24 alunos, e deu o caso por esclarecido, conforme ata da reunião do dia 8 de agosto.
Entretanto, independentemente de quaisquer considerações sobre o mérito da questão, o problema que levou a Comissão a pedir explicações aos jornalistas foi o descumprimento do princípio ético elementar de ouvir quem é acusado de um crime. O que, aliás, é explicitado pelo nosso Código de Ética, que diz:
Art. 12. O jornalista deve:
I – ressalvadas as especificidades da assessoria de imprensa, ouvir sempre, antes da divulgação dos fatos, o maior número de pessoas e instituições envolvidas em uma cobertura jornalística, principalmente aquelas que são objeto de acusações não suficientemente demonstradas ou verificadas. 
Os fatos e as distorções
No dia 4 de outubro, a Comissão enviou mensagem a ambos expondo a situação e solicitando uma justificativa, por escrito ou numa conversa presencial. Ambos escolheram a segunda opção e a reunião foi marcada. Os contatos foram feitos reservadamente, como manda o Regimento da CE.
Porém, os dois jornalistas resolveram dar publicidade ao caso, fazendo circular na internet um texto que ignorava o sentido original da nossa demanda e deturpava o motivo da reunião, afirmando que, “pela primeira vez na história”, a CE iria tratar da “questão racial na mídia” (anexo 6). Isto, como se vê, era flagrantemente falso.
O texto funcionava, ainda, como uma convocação a que os interessados participassem da reunião, o que seria impossível, de acordo com o Regimento.
Consideramos essa atitude impertinente, abusiva, intimidatória. Por isso, cancelamos o encontro presencial e solicitamos o envio das justificativas por escrito. O resultado foi mais um texto mentiroso (anexo 7), amplamente divulgado na internet, que condenava a Comissão de Ética por “fugir da discussão racial”, algo que jamais esteve na pauta. Mais uma vez os dois jornalistas se fizeram de vítimas. Num longo texto também veiculado pela internet (anexo 8), Fátima identifica os membros da Comissão com as “elites intelectuais” que “preferem repreender e/ou punir aqueles que ousam colocar o dedo nessa dolorosa ferida [do racismo]” e considera “indevido o enquadramento” supostamente promovido pela Comissão de Ética.  Supostamente, porque não houve “enquadramento” algum: houve um pedido de esclarecimento, enviado reservadamente a ambos os jornalistas. Por isso, tampouco houve, da parte da Comissão, qualquer tentativa de expor ao constrangimento esses profissionais, como acusa a autora.
Fátima expõe sua versão dos fatos, baseada exclusivamente nas impressões e informações da aluna denunciante, seguida de uma detalhadíssima apuração que avança para o que seria lícito ou não lecionar na disciplina ministrada pela professora. Insiste em que a matéria publicada no site da APN teve o objetivo de convocar para uma reunião em que o Movimento Negro de Niterói discutiria o caso. Só se esqueceu da necessidade de ouvir o “outro lado”, o que não teria sido difícil, inclusive porque o assunto já havia sido discutido pelo Colegiado de Unidade do IACS.
Mas, aparentemente, isso não é importante, para o jornalismo da “mídia alternativa” ao qual a autora se filia:
“Quando divulgamos uma passeata em favor dos direitos de uma categoria de trabalhadores ou contra as políticas de remoção dos governos Paes e Cabral ou, ainda, contra a privatização e a entrega das riquezas naturais do país como o petróleo e a água à exploração da iniciativa privada, não nos sentimos na obrigação de ouvir Paes, Cabral, Lobão e os lobbistas da iniciativa privada. Eles já contam com toda a mídia grande para expor suas ideias, muitas vezes mentirosas, e para convencer a população. Nós, mídia alternativa, tentamos dar Voz a quem habitualmente não tem. Não é razoável sermos considerados ‘sem ética’ por essas escolhas”.
É, além de tudo, curioso ver como se associa o poder de fogo de governantes, autoridades e grandes empresários ao de uma simples professora universitária. Mas o sentido desse jornalismo é bem claro: em qualquer caso, daremos apenas a nossa versão dos fatos, sem reconhecer o elementar direito ao contraditório. O que contraria flagrantemente o Código de Ética, no artigo citado no início deste texto.
Tal prejulgamento levou, inclusive, a jornalista a afirmar que a presidente da Comissão tinha “relações próximas” com a professora acusada, o que é falso, a não ser que se pretenda sugerir que basta trabalhar numa mesma instituição ou empresa para ter “relações próximas”. As duas professoras nem sequer se conhecem. Porém, a manobra maledicente é clara: insinuar que a presidente da Comissão agiu por interesses pessoais ou corporativos, e não em defesa do respeito à ética.
Foi essa sucessão de deturpações que levou a Comissão a prestar publicamente esses esclarecimentos. Porque não apenas esses dois jornalistas descumpriram um princípio ético básico ao não ouvir uma acusada, mas publicaram sucessivas inverdades em relação aos procedimentos da Comissão, tentando jogá-la contra a categoria que, democraticamente, a elegeu, e contra todos os que lutam pelo respeito aos direitos fundamentais dos cidadãos e à boa e competente prática jornalística.
A Comissão de Ética

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