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quinta-feira, maio 2, 2024
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As feridas abertas na proteção de jornalistas cariocas

publicado originalmente na edição 35 do Lidão, informativo impresso do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio
A segurança dos jornalistas cariocas passa por um período não só de questionamentos, mas de mudanças. Na memória, segue a morte do repórter cinematográfico Gelson Domingos, que completa um ano em novembro. E, mesmo diante da tragédia e das situações de risco enfrentadas por jornalistas, as empresas de comunicação da cidade continuam se negando a aceitar a inclusão no acordo coletivo de cláusulas que as obriguem a fornecer equipamentos de segurança adequados aos profissionais durante coberturas de risco.
Mas há argumentos técnicos que podem, finalmente, convencer os donos de empresas de comunicação. No fim de agosto, duas turmas completaram o Curso de Segurança para Jornalistas em Área de Conflito, com especialistas do International News Safety Institute (Insi).
Participaram 47 profissionais – repórteres, produtores, repórteres fotográficos e cinematográficos, por exemplo – dos principais veículos de comunicação do Rio. Eles tiveram, ao longo de dois dias, aulas de primeiros socorros, posicionamento em tiroteios e noções de armamento e balística.
O curso (foto), o terceiro feito no Rio e que foi realizado por causa da cobrança do Sindicato dos Jornalistas do Município às empresas, deixou claro que a grande maioria dos veículos não fornece o equipamento de proteção adequado.
Os especialistas ingleses do Insi afirmaram que cada profissional, inclusive o motorista, deve ter seu próprio colete à prova de balas. E ele deve ser feito de tamanho aproximado do corpo de cada um e ser compatível com o ambiente da pauta.
Assim, no Rio, as empresas devem fornecer coletes que suportem tiros de fuzil, arma comumente usada por policiais e traficantes. No caso de Gelson Domingos, repórter cinematográfico da TV Bandeirantes morto enquanto fazia imagens de operação na favela de Antares, na Zona Oeste, o equipamento que usava mal poderia suportar tiro de revólver.
Ryan Swindale, instrutor do Insi, disse que há muitos exemplos como o de Gelson. “Há jornalistas que usam coletes com placa (de proteção) para armas de baixa velocidade enquanto vão para áreas onde há armas de alta velocidade”.
No curso, ele citou outro “equívoco” de muitos jornalistas que trabalham em situação de risco: pensar que ficando logo atrás de policiais, durante cobertura de conflitos, estarão protegidos. “Na verdade, estão na linha de tiro. São alvos. A sugestão é ir para terrenos elevados.”
No fim de agosto, depois de terminadas as aulas do Curso de Segurança em Área de Conflito, o Sindicato dos Jornalistas mostrou a Swindale fotos do colete à prova de balas usado por Gelson Domingos (fotos 1, 2, 3 e 4). Segundo a análise das imagens feita pelo especialista, o equipamento era para proteção contra fragmentos de explosões e não contra tiros de grande calibre. “Ocorre muito de se usar o equipamento errado por não se saber para o que ele se presta”, afirma.
A direção do Sindicato dos Jornalistas, que organizou o curso com a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), espera que as empresas, que financiaram o curso, aceitem as orientações. E que forneçam equipamentos adequados à realidade carioca.
Foto: Guilherme Póvoas
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